NA SALA DO MESTRADO
Vejamos esta crônica. Qualquer semelhança com a
vida real é mera coincidência (?). Farei ela na primeira pessoa do singular
algumas vezes. Vamos lê-la.
Era uma sala grande com quase trinta alunos o
curso era caro demais, com um desconto que foi dado por outra contrapartida de
uma instituição de classe, valor esse dado muito rapidamente, baixou a
mensalidade deixando-a mais acessível, mesmo assim era muito caro, dois salários praticamente com o desconto. Para nós parecia
ser bom fazer tal curso, embora já soubesse de toda a máfia universitária,
pensava comigo mesmo “eles aqui respeitarão todas as linhas de contabilidade”,
pois, o mestrado era de contabilidade. Com certeza isso não aconteceu. Era mais
um tipo de bacharelado de decoreba que se exigia pesquisas para publicação de “grande
valor” cujas aulas estavam muito distantes de um nível de problemática
cientifica. Não se discutia um só problema científico. Nada. Somente revisão de
livros. Todos nacionais e escritos por gente de uma Universidade só. Mas se exigia um super-aluno porque “a nossa
instituição é a melhor do país”.
O curso tinha notação máxima pelo Estado, e ainda
nível internacional conforme a nomenclatura, todavia, não se permitia estudar
nenhum autor estrangeiro, mesmo os americanos. Depois o projeto tinha que ter todos os problemas, e se tivesse era
cortado para se fazer a linha de pesquisa da instituição. Uma coisa totalmente
sem nexo que não dá para entender: se exige problemas que resolvam a questão
da academia, quando alguém os apresenta é alvo de anátema e inveja. É mais ou
menos isso.
As aulas fora acontecendo e tinha um partidário
do IFRS inclusive aliado às instituições nacionais para tentar fazer um gancho
com associações dos Estados Unidos, coisa que para mim não era entendível.
Porque um brasileiro tem que fazer um curso no Brasil e depois sem sua vontade
fazer testes iguais aos norte-americanos? Se fosse um convênio de cursos
específicos tudo bem, mas um convênio de testes profissionais? E para todo mundo? Achei um absurdo.
O problema não era o fato dele ser partidário
do IFRS, e se considerar o batman, mas a forma que ele defendia. Na primeira
aula começou a defender a conta ajustes de avaliação patrimonial, fazendo
elipse com a correção monetária. A turma toda ficou calada. Um contador de uma
grande empresa pergunta:
_____Professor
... Isso não tem base com a realidade, como eu vou atualizar o
imobilizado sem variação patrimonial?
_____É o que a lei 6404 ordena.
_____Mas nós da academia devemos ao menos
criticar esta prática amoral e anti-científica não?
_____Não é anti-científica.
_____Não? Mas como eu vou jogar uma correção
monetária no balanço de maneira a criar lucros ou prejuízos sem existir custos
ou receitas? Isso é fraude.
_____Mas existe a chamada “gestão de resultados”
você não estudou isso.
_____Gerenciar resultados fazendo manipulações?
Isso não é lucro.
_____Isso depende do seu conceito de lucro,
você não estudou o que eu estudei, eu sou doutor em contabilidade pela ... Eu
sou doutor! Eu sei o que estou falando! O senhor é o que? Um reles aluno.
Ele ficou calado. Mas toda a sala quieta
observando os erros que eram enviados lição após lição, sob a justificativa inicial
“eu sou doutor em contabilidade” poder-se-ia quebrar o princípio da afirmação e
fazer a contradição; quando se assumia autores clássicos a desculpa era “eles
estão desatualizados”, o que valia era o “modernismo” e falso. Os autores
clássicos eram proibidos de se estudar, tudo estrategicamente.
Quando ele foi defender a normativa
internacional do valor justo aí que a coisa foi mais grave. Tinha outro
contador no curso que fazia os balanços de uma grande empresa do sul de Minas.
Ele redarguiu:
_____Professor jogar valor de mercado no
balanço não tem valor real, porque não há base jurídica.
_____Ora, o senhor está pensando como advogado
e não como contador e a essência sobre a forma?
_____Ora professor, se o senhor justificou com
o colega tal que devemos cumprir a lei do direito, como o senhor usa esta
justificativa contra mim? Não há base contábil real.
_____O senhor fez doutorado em contabilidade?
____Não fiz mas eu sou contador há muitos anos,
em meu escritório já passou mais de meio milhar de empresas.
_____ A sua opinião para mim não vale nada. Você
não tem a ciência que eu tenho.
______Ora se não vale nada porque eu sou
contador há tantos anos e com o prestígio no sul de Minas? Eu mantive a
qualidade de boas empresas até hoje.
_____Isso não me interessa o senhor fez
doutorado em contabilidade?
_____Não fiz, estou estudando o mestrado aqui.
_____Pois então o senhor não tem bagagem para
falar.
Parece que aquele “professor” foi colocado no
mestrado e doutorado da contabilidade da instituição dele apenas para ficar defendendo
IFRS e coisa errada. Ele caiu do céu de para-quedas. Ele apareceu do nada. A
gente nem sabe como se forma esses “doutores” no país. Eles aparecem do nada.
Eu nunca tinha ouvido falar dele. Depois comprei alguns de seus livros e
percebi que ele mantinha os mesmos erros. Coisas simples de se achar. E a
repetição era clássica.
Tudo o que se faz no Brasil é para manter uma
tendência, e nisso “surgem os doutores”. Parece que maquiavelicamente ou
estrategicamente aparece um doutor simplesmente para justificar. Gente até
muito mal educada. Mas é “Dotô”. Cuja arrogância consiste em proceder para
defender religiosamente uma linha e nada mais. Justamente para se fazer uma
coisa só temos os doutores.
Só que não parou por aí. Nisso outro contador
perguntou:
_____Ora professor como vou justificar o valor
de mercado volátil como se fosse um balanço real?
_____Aplicando a norma!
_____Sim, mas se há reserva, e há ganho de
capital que não existiu na realidade mas no ajuste eu vou ter que tributar esse
valor como eu faço?
_____O senhor usa o livro de apuração do lucro
real.
_____Livro de apuração de lucro real? Mas jogar
um valor sem ser real no balanço vai permitir ajuste do lucro real? Que e como
eu vou ajustar isso no livro de lucro real?
_____Ajustando!
_____Mas e a lei? Como se faz?
_____O senhor não conhece o sistema da essência
sobre a forma!
_____O senhor poderia mostrar no sistema como
faria?
_____Agora eu não posso porque a matéria é
outra.
_____Mas professor se o senhor diz que é só
apurar no lucro real, e depois diz que simplesmente não sabe... eu apuro o
lucro real há muitos anos, eu quero saber como se faz, eu nunca vi isso!
_____É porque você esta desatualizado!
_____Professor eu faço contabilidade de
empresas com ativos de mais de 30 milhões!
_____Mas eu sou doutor em contabilidade.
Parece brincadeira mas não é. Entre as
justificativas que era doutor, formado na Universidade tal que tem monopólio no
Brasil, tudo era aceito até os erros. Eu olhava a plateia, todo mundo com um
olhar de tristeza: “o que vale um título de mestre?”.
Como poderia um doutor em contabilidade ensinar
tanta coisa errada apenas para justificar a norma internacional, com
justificativas que o direito pode e não pode, que nós estávamos desatualizados,
e que não poderia responder porque a matéria era outra.
Claro que ele nunca tinha fechado balanço real
na vida. Nunca tinha feito contabilidade para ninguém. Nada, nada. A vida desse
homem era ser sustentado pelo Estado e se manter nas Universidades que passou.
Era contador sem ser, e por tal só ensinava coisa errada. Mas era Doutor...
Eu observava quantos erros eram transmitidos na
aula, e a intensidade deles, percebi que
infelizmente tinha duas alternativas ou se estudava sozinho procurando o
melhor caminho da teoria contábil com os grandes nomes, ou se teria um título
para se justificar a suposta autoridade só passando e aprendendo coisa errada.
Uma coisa que eu nunca vendi foi a minha
consciência, meus colegas que eram até melhores contadores que eu eram
obrigados a se sujeitar pelo título eu tinha 24 anos na época poderia esperar
um pouco mais, todavia, essa realidade da pós-graduação no Brasil em
contabilidade e outras áreas está muito comum, pessoas analfabetas funcionais,
sem técnica sem doutrina, que nutrem amor pelo sofisma e pela contradição, sem
estilo, sem cultura, sem base, sem humildade, sem nada, portam diplomas e com
isso vão se multiplicando os erros que aprendem e que pensam estarem certos
sobre a justificativa “eu fiz um mestrado” e “fiz um doutorado” e com isso o
pedantismo anda solto no país.
Fim da historinha.
Paz e Bem!
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