OS “SALTOS” NO CONHECIMENTO
Prof. Rodrigo Antonio Chaves da Silva Imortal da Academia Mineira de Ciências Contábeis, ganhador do prêmio internacional Rogério Fernandes Ferreira
Quando lemos as obras de parapsicologia do ilustre Padre
Quevedo percebemos inteiramente uma preocupação do mestre em relação ao “esforço”
do consciente em aprender, ou mesmo em tentar produzir alguns fenômenos
para-fisicos ou espirituais.
Ele confirmava que forçar o psiquismo para além de suas
forças, gerava um distúrbio muito grande, provocando doenças, isso quando não se
alcança os objetivos planejados, porque por um instante parece que o organismo
reage concretamente a favor desta intenção, depois ele afrouxa para níveis muito
piores do que os supostamente obtidos. Em outras palavras a pessoa regride ou
fica pior que era.
Na vida científica é a mesma coisa, ou nós estudamos para
aprender, ou aprendemos pela experiência, ou passamos a saber utilizar a
verificação de nossas intuições, ou então, podemos provocar danos ao psiquismo.
Ou se estuda, ou se é alvo de revelação de Deus. Como a
maioria não é santo, tem que se estudar, mas sem forçar a mente, ou sem
provocar “saltos” que são ligações impossíveis, maquiadas, e falsas de fases de
conhecimento, que exigir-se-iam mais maturidade, contudo, se ligam
aparentemente, erroneamente, falsamente, todavia, sem a conexão real.
O esforço exagerado provoca danos ao consciente e
inconsciente. Aqui no setor PATOLÓGICO.
Mas não para por aqui, os objetivos como dissemos, não são
alcançados porque em verdade não estamos lutando a favor da natureza humana, e
sim nos esforçando por uma finalidade temporária, ocasional, aparente, e a
curto prazo, depois, estas aspirações vão se afrouxando até ficarmos num nível
muito abaixo do que estávamos.
Qual seria a média de estudo a ser feita por dia? Contadores
experientes aconselhavam estudar ao menos uma hora por dia. O próprio Francisco D`auria dizia isto nos
seus dez mandamentos do contador, que nós deveríamos estudar ao menos uma hora
por dia. Claro que o contador estuda mais. Porém, este é o mínimo. O resto de
nosso dia deve ser trabalho e atividades.
Mas quanto tempo que se forma um mestre? Anos de estudos, e
muitas obras lidas. Quando vamos pegar na escala de estudo geral, Aristóteles
estudou 20 anos na Academia de Platão, para então começar a escrever seus
livros que ultrapassam as centenas e são base de todas as nossas escalas atuais
dos conceitos do ocidente e do mundo. Born passou anos na Universidade
avaliando a possibilidade de sua teorização sobre o caos e a mecânica quântica.
Descartes pensou anos até chegar no cogito. Spinoza meditou decênios. Galileu
dedicou toda uma vida... E os casos são muitos.
Na contabilidade é a mesma coisa, Villa estudou no mínimo 25
anos antes de seus livros, Cerboni seu discípulo cerca de mais de 30, Fabio
Besta conhecendo estas obras no mínimo 30 também, Masi quando fez sua tese
tinha 27 anos, e quando criou sua teoria tinha cerca de 34 anos, estudando há
mais de 20 anos. Lopes de Sá quando fez sua teoria geral tinha 64 anos.
Portanto, o conhecimento se faz na maturidade, e não no imediatismo.
O gênio é uma exceção, ele descobre e consegue verificar
cedo, é o caso de Einstein antes de 30 anos era conhecido por sua matemática, e
por ter modificado um conceito que durava centenas de anos, conceito este não
estudado por ninguém por medo de mexer nas obras-primas dos grandes nomes.
O conhecimento se forma devagar, e nem sempre na medida
jornalística, mas na reunião de informação, na erudição, na lentidão.
Porém, temos o caso de “saltos” do conhecimento. O que é
isso? É quando o individuo sem uma bagagem mínima de análise, e de estudo, quer
fazer obras ou mesmo escritos que estejam ao nível de uma pessoa que tem uma
experiência e uma erudição de muitos anos maquilando as fases propositalmente.
O “saltante” é um sofista real ou potencial.
Ele faz e defende uma coisa sem estudar.
O “saltador” geralmente finge saber, e quando sabe é muito
pouco.
Na academia há uma política hoje para o “salto”, evitando as
formações adequadas e vagarosas do conhecimento; pessoas defendem títulos ou
temas que não tem base suficiente, e ganham na “aparência”.
Para tanto, é fácil verificar que o conhecimento do
“saltante” está na superfície, não amadureceu o suficiente, e não teve a base
exata para a sua sustentação.
Quanto tempo que se forma um cientista? Muitos anos. A
maioria dos grandes mestres estudaram no mínimo dez anos para expor suas
opiniões.
O que aconteceu com o advento da internet nesta realidade,
foi uma diluição do conhecimento, hoje qualquer pessoa se forma em opinião
lendo uns dez livros, ou citando este ou aquele autor, hoje temos os mestres do
youtube, e os professores do computador, no entanto, mesmo com algum
conhecimento, percebemos que falta muito, pois, é muito diferente a mera
discordância da posição de saber realmente uma coisa.
O próprio Karl Pooper dizia claramente na sua obra maior
sobre a pesquisa das ciências sociais, que o que nós devemos nos orgulhar é de
nossa ignorância, daquilo que não sabemos; a verdade é que na verdade, não
podemos nos aproximar totalmente da verdade, apenas chegamos em graus que sejam
considerados aceitos ou não, conforme o teste de factibilidade.
Para ele, não existe pois teoria que seja totalmente
verdadeira e nem totalmente falsa, mas as mais próximas da falsidade, que são
provadas inadequadas, por uma série de autores, são certamente as teorias mais
falsas. Provavelmente é assim.
Aquelas que são admitidas por um número de pesquisadores, e
são provadas mais crivadas e mais respaldadas que outras, são consideradas
claramente como as mais verdadeiras.
O problema está no CONSENSO.
Nem sempre quando muitos aceitam uma ideia como se fosse
verdadeira ela o é, porque muitas vezes ela não foi testada como deveria.
Como dizia Nelson Ribeiro a unanimidade sempre é burra, pois,
quem pensa como todo mundo não precisa pensar.
E esse vício acontece na chamada academia formal, aquela dos
títulos.
Temos inúmeros casos como este, mas pegando um exemplo na
física, o conceito de movimento eterno e espaço absoluto, para o plano do
espaço-tempo, não tinha validade total, por isso a Teoria Einsteniana provou
ser muito mais válido em maior generalidade conceber o relativo do que o
absoluto em análise do espaço, e isso foi verdade comprovável e provada, mas no
momento da teoria era contra toda a marca da academia formal, depois sendo
aceita sem tergiversações.
Outra conquista feita pela teoria de Einstein foi com relação
a afirmar que a luz, concebida como energia pura, teria um pouco de matéria, e
isso foi provado anos depois que era verdade.
Logo, por causa da mentalidade teórica mais autêntica, a
menos verdadeira não foi deixada de lado, mas passou a não ser o padrão comum
de pensamento da época.
Tudo isso aconteceu por genialidade, contra o vício mecânico
da nossa academia formal, que promove e “educa” fazendo “saltos”.
Ao passo que na contabilidade temos a mesma coisa, com
relação ao consenso.
Hoje as revistas acadêmicas tem um consenso muito grande em
utilizar-se as regras estatísticas nos trabalhos de pesquisa, mas isso até que
não é por todo ruim, todavia, fazem isso, de maneira que as demais visões de
lógica, simbologia, ou pesquisas de abordagem qualitativa, e de cunho
conceitual sejam rejeitadas EM QUASE TODAS AS publicações.
A FORMAÇÃO chega ao zero, pois, o número de profissionais que
quer saber qual é o logito, ou o número nepperiano da derivação da raiz
quadrada tal, o que não serve em nada para a prática, muito menos para a
teoria, porque é um “salto” obtido por um programa de contador, é INEXISTENTE
também.
A formação tem que ser qualitativa por sobre o quantitativo e
não a reprodução de dados do computador.
Não existe no Brasil revistas qualificadas bem, pelo
ministério da educação, que tenham cunho QUALITATIVO. Somente QUANTITATIVO.
Se considera a redução ao QUANTITATIVO, como ciência, o resto
que é a verdadeira ciência, como se não fosse.
As investigações quando as lemos ou são enxertos sem conexões
de autores, ou mesmo uma repetição das mesmas ideias do passado.
Sempre deve-se seguir religiosamente o seu orientador.
Na minha vida de orientação, tive poucos orientados, mas
nunca obriguei ou coloquei na mente de um aluno, um ponto-de-vista meu, ou
nunca quis rejeitá-lo sob a desculpa que a pesquisa eu não orientaria porque
não concordava com ela.
Eu sempre trabalhei o aluno na ideia dele. E rejeitava os que
falseavam ou fraudavam o trabalho científico.
Mas na academia formal não é assim, quanto mais próximo você
está do “xerox” da ideia mais próximo do título e muito mais longe do “novo”.
Por isso que não existe nada “novo” no país. Se repete toda hora.
Não que seja errado investigar utilizando um modelo de estatística,
o problema está na forma que se escreve.
Ou seja, perdeu-se o estilo quase que completamente.
A doutrina então foi rechaçada das escalas escolares; as
grades de teoria cada vez mais a favor da mecanização do pensamento, passam a
aceitar unicamente o que se entende como “normas” e depois as chama de
“princípios” sendo que na verdade a visão dos dois na escala do conhecimento é
absolutamente diferente.
Não se sabe conceituar mais, e quando o faz, é de modo muito
leviano, pois, se utiliza formas que estão fora do contexto consagrado.
O consagrado na verdade está dentro do contexto científico,
mas fora do consenso da academia universitária de hoje. Com uma mecânica muito
superficial na montagem das pesquisas.
Se uma pesquisa deve ser desenvolvida por meio da linguagem
de domínio, como teremos excelentes trabalhos sem domínio da linguagem ou mesmo
sem estilo? Isso acabou.
As revistas acadêmicas no Brasil, as mais conceituadas, se
fossemos investigar a fundo, não são as mais lidas pelos profissionais.
A informação deixou de ter o seu papel de formação da mente,
e neste caso, assumiu um caráter mais destrutivo que construtivo que foi o de
somar citações, ou pontuações em grupos de governo.
Acaso os mais pontuados, podem ser considerados os melhores
nomes, sendo que o que fizeram, não assumiram personalidade nenhuma dentro do
conhecimento? Publicação sem intenção não vale nada.
A pesquisa então está se amoldando numa indústria que não tem
valor, embora procure valorar as suas notas.
O conhecimento é o meio e não é o fim, a nota é o fim, e o
meio é maquila o “saber”, em outras palavras o fim é “não saber”.
Os interesses são mesmo de ter um número, e não de formar a
mentalidade ou personalidade do conhecimento.
Agora vemos estes “saltos” claramente, não apenas neste
pedantismo que existe na mecanização acadêmica, todavia, naquilo que obsevarmos
em muitos artigos, revistas, e projetos de pesquisa. Como que um aluno que não
viu cálculo, que não estudou naquelas fontes, não teve os fundamentos, consegue
escrever aparentemente bem, usando tabela, e tratando de grandes meios
estatísticos? Ora um salto. Ele sem ter lido o que devia ou estudado o que
tinha que ser estudado, olhou na internet e faz um autêntico recorte de texto,
sem plagiá-lo totalmente. Ou com o apoio de alguém sabe lá com quais intenções (boas
que não são), conseguiu em “parceria”, pular para aquele nível, sem saber subir
a escada para não danificar a sua coluna... E a coluna é tudo no andar...
Saltar o conhecimento é pular de um nível ao outro sem
qualidade para tal, ou defender um projeto ou um conteúdo que deveria ser muito
mais bem meditado, ou formado em erudição.
Ou seja, é quando alguém ou um grupo de pessoas, perfaz um
“pulo” de nível, saltando sobre as diversas fases para se chegar naquele grau,
que não se tem, mas se defende.
É o perfeito pedantismo em outras palavras, ´porém, o
pedantismo é uma atribuição, é o resultado final do “salto”.
O salto é a forma a qual se chega neste nível, se “vai
pulando”; como alguém poderia chegar naquele grau, falando sobre estes métodos?
Primeiramente, tinha que ler uma série de artigos e livros que demorariam cerca
de alguns meses, depois, dominar o método demoraria até algumas semanas, aí
então estaria apto para fazer o trabalho. Mas não, em menos de seis meses todos
os que seguem este “não método”, que é o de “atalhar”, consegue se achegar nos
maiores níveis que não são os verdadeiros da sua postura do seu domínio,
obstante sejam aqueles defendidos.
O salto permite o “atalho” de um suposto saber e o verdadeiro
nível, chegando numa “aparência” para se enganar.
O resultado é o que vemos hoje muitos formadores, muitos
conhecedores, e poucos sábios, poucos pesquisadores de fato.
O conhecimento é artesanal ele não se adquire pulando, mas
como um quebra-cabeças, que para se ter um mapa formado, deve-se ter centenas
de referências.
Olhem em artigos meus simples: eu não deixo de citar uma base
de 50 referências, mas a base minha geral é de 300 referências, embora, já
tenha lido mais de 1000, entre artigos, livros, cadernos estrangeiros e
nacionais. Eu ainda acho pouco, e não me acho apto para defender muita coisa...
O caminho é por aí, muito devagar, sem saltos, mas meditando
vagarosamente o que se estuda, ter paciência, e não se preocupar com as
aparências, estas nem sempre revelam o coração da pessoa, muito menos a mente
do ser.
Fazer atalhos e pular, não pode ser adjetivado como outra
coisa a não ser vigarice e pilantragem intelectual.
Todos chegarão num adequado caminho desde quando andem muito
devagar por ele, é como dizia Masi, as verdadeiras e grandes ideias são aquelas
muito bem pensadas, e bem trabalhadas, e não aqueles precipitadas, estas são derrubadas
muito facilmente.
A qualidade se faz com o tempo, com o trabalho, e não com
aparência e atalhos.
Paz
e Bem!
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