O PROFESSOR FERNANDO VIEIRA GONÇALVES DA SILVA (1904-1990)
Prof.
Rodrigo Antonio Chaves da Silva
Contador,
da Escola do Neopatrimonialismo
Na
doutrina contábil mundial, na história da contabilidade, Portugal se desponta
com diversos nomes, entre eles o pai da escola
de Lisboa o professor Fernando
Vieira Gonçalves da Silva.
Sabemos
que a doutrina de Portugal começa com importantes professores como Afonso
Pequito, e Ricardo de Sá, depois Cimourdain de Oliveira, mas praticamente o
grande professor português, pai da doutrina de Lisboa, foi Gonçalves da Silva.
Ele
cria um tipo de doutrina não específica e muito menos declarada, mas latente em
suas obras, de uma contabilidade patrimonial
volvida à gestão dos fatos.
De
alguma maneira as escolas superiores de Portugal e Espanha, que têm os cursos
de doutorado de gestão, queriam a fundo reconhecer o valor da “contabilidade
gerencial”, todavia, substantivam a “gestão” porque a concebem como um objeto a
ser estudado; claro que a gestão em si não é ciência, e isso Gonçalves da Silva
perfez muito bem concebendo uma gestão contábil, todavia, lá o entendimento
pode ser parecido, e tem conotações um pouco diferenciadas, mas a influência da
contabilidade de gestão por parte dele é deveras inquestionável.
Na
sua época, o curso era nominado de “comercial”, então, ele se forma em 1927, se
doutorando em 1938, no Instituto Superior de Ciências Econômicas e Financeiras,
passando a dar aulas logo em seguida, até a ponto de fazer provas públicas de
professor catedrático em 1952.
Escreveu
sobre contabilidade geral, societária, análise, história da contabilidade; foi
um dos mais influentes autor de Portugal, e de Lisboa.
Foi
um professor da matéria “Economia das Empresas”, a qual despontou também com
cursos de Doutorado a nível universitário, tanto em Espanha, quanto em
Portugal.
É
autor de mais de dez livros de contabilidade.
Ele
tinha uma visão da contabilidade ligada
especialmente a duas partes: uma mais restrita e outra mais ampla. No aspecto
da restrição, seria a contabilidade uma técnica de informação, de escrituração,
e de levantamento dos fatos. No aspecto mais amplo a contabilidade seria nada
mais do que uma ciência que estudava os fenômenos patrimoniais e os fatos
gerenciais, descrevendo normas de administração para quaisquer organismos
econômicos e sociais. Há ainda trechos de suas obras que nos omitimos por hora,
para depois destacarmos outros aspectos mais profundos, em outras
oportunidades, Deus nos permitindo.
A
sua influência na escola portuguesa foi grande, embora, também haja tido
urdiduras sobre o objeto da contabilidade, e sobre a ciência contábil. Um dos
que eram discutidores desse campo doutrinário foi o professor Jaime Lopes Amorim.
Não
podemos dizer que eram inimigos pessoais, mas sim partidários de ideias
diferentes, para o professor Amorim, da escola
do Porto, um dos mais influentes ensaístas e cientistas contábeis, a
contabilidade estudava o equilíbrio
estático do patrimônio, para Gonçalves da Silva, a contabilidade estudava o
patrimônio, mas nos aspectos informativos e gerenciais. Havia pois, uma
discussão profunda.
Quando
visitamos Portugal a segunda vez, tivemos a oportunidade de conversarmos com a
Dra. Eleonor Fernandes Ferreira a qual fizera comentários interessantes sobre a
polêmica entre Amorim, e Gonçalves da Silva, sobre o objeto da contabilidade.
Visto que, seu pai o Dr. Rogério Fernandes Ferreira era discípulo de Gonçalves
da Silva, e foi o maior escritor de Portugal em número de livros até então,
chegando no total de cinquenta volumes, obtive informações incisivas sobre a
discussão entre as duas escolas.
Pareceu-me
que a tertúlia principal era em torno do entendimento da ciência contábil; não
havia outra questão mais a ser levantada. Não sabemos se ambos chegaram a ter,
depois de um certo tempo, um convívio harmônico com relação às diferentes
ideias. Todavia, havia um embate entre a escola do Porto, e a escola de Lisboa,
devido às concepções da contabilidade. Numa classe, a divergência é boa. O
problema está em defesas ilógicas, ou mesmo ataques pessoais. Estes devem ser
evitados e rechaçados ao máximo. Homens de ciência devem ser respeitosos e não
caricaturizadores dos opositores como hoje vemos muito ocorrer no Brasil.
No
ensino universitário e secundário, se utilizava os seus livros. Silva foi um
grande best seller do seu tempo.
Na
sua obra “O patrimônio e o Balanço”
nota-se um invejável conhecimento jurídico e de técnica contábil. Além da
teoria científica. Ele expõe muito bem que o objeto da contabilidade é o
patrimônio, que só pode existir numa sociedade livre e democrática.
Ou
seja, é o direito harmônico que permite a propriedade privada. Nesta ótica que
manteve-se nos seus pontos de observação. Considerando que Portugal tivera no
século passado problemas políticos importantes, que marcaram a sua cultura, o
seu povo, e a sua tradição. Por isso gravou esta retórica relevante sobre o
objeto contábil só existente em uma sociedade com equilíbrio jurídico.
Fez
importantes estudos sobre a situação líquida do patrimônio, e a massa
patrimonial, conceitos estes que deveriam vir à tona nos cursos de teoria,
infelizmente muito esquecidos, mas bastante atualizados.
Sua
obra sobre preços e mercados deveria ser estudada em todos os cursos de
mestrado, na matéria “custos”, porque traz elementos incisivos e muito
atualizados.
Era
uma pessoa humana e muito amável, os que conviviam consigo, inclusive meu
mentor, o professor Lopes de Sá, diziam que era um português amante da
pedagogia e sempre distribuía amizade onde convivia.
Existe
o merecimento de republicação de seus livros e suas obras. Algumas do professor
tenho a oportunidade e o privilégio de guardar como herança do gênio Armando
Aloe, mas claro que me interessaria estudar mais este grande nome da
contabilidade portuguesa que merece os nossos aplausos.
Um
viva e um bem haja ao grande português, professor de contabilidade, Fernando
Vieira Gonçalves da Silva!
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