DIA DO TRABALHADOR E DO TRABALHO – BREVES REFLEXÕES


Prof. Rodrigo Antonio Chaves da Silva
Imortal da Academia Mineira de Ciências Contábeis; professor visitante da Universidade de Sevilha

Hoje é dia do trabalhador, mas por quê não do trabalho? Não há trabalho sem trabalhador e vice-versa. Todos nós trabalhamos. O estudante trabalha estudando, o cantor cantando, o poeta fazendo poesia, o investigador lendo, o escritor escrevendo, o padre celebrando missas, o professor ensinando, o operário fazendo produtos, o pedreiro construindo, o faxineiro varrendo, a dona de casa cuidando do lar, o engenheiro fazendo projetos, o advogado fazendo peças e defesas. Portanto, todos nós, quando estamos agindo, estamos TRABALHANDO.
Aqui não nos caberá fazer observações sobre a história do dia do trabalho, as questões políticas, normativas, e institucionais, mas o fenômeno trabalho, que é muito estudado nas ciências sociais, como um dos principais fatos de análise.
Igualmente o pode ser pela contabilidade. Nesta ciência, especialmente, na Alemanha, se fez um estudo desprendido da contabilidade para a análise do trabalho, o que criou um tipo de investigação separada. A aludida doutrina foi bem absorvida por partes da cultura espanhola, tanto assim é que em Sevilha existe o departamento de “ciências del trabajo”, o qual compõe diversas ciências como a economia, a contabilidade, o direito, e outras mais. Neste departamento, no setor da economia e contabilidade, há a presença de ilustres professores como o Dr. Mariano Sanchez Barrios, o qual tivemos o prazer de conviver e conhecer, em nossa breve visita à centenária Universidade no ano de 2017.
Sabemos que o termo “trabalho” vem do latim tripalium, que era um instrumento para aferrar animais ou para segurar escravos, o mesmo termo significa “esforço” ou “força para vencer obstáculos” do latim em uma outra análise sintática.
Teologicamente o trabalho humano tem uma sina divina, pois no jardim do Éden o homem vivia com seus dons preternaturais, ao pecar veio todos os transtornos da carne e da concupiscência, a culpa e a pena, então, Deus disse que conseguiríamos as coisas com o suor de nosso trabalho, com o esforço para concretizarmos o pão de cada dia. Não foi uma maldição, mas uma ordem, uma decisão com base nos danos causados pelo pecado. Todavia, tal norma, sempre foi benéfica ao homem, para vermos que mesmo nos castigos, Deus é bondoso conosco. Embora trabalhar sempre é difícil. Mas dignifica a alma sem dúvida.
 Quando em Roma antiga o trabalho dos soldados era remunerado, o faziam com um punhado de sal, que era um tipo de moeda da época, uma preciosidade, por isso veio o termo “salário”.
Outra versão para conceito de salário, é a palavra “labor” que é igual “trabalho” por isso os sócios de uma companhia muitas vezes recebem pelo seu trabalho um “pró labore”, isto é, um valor pelo “labor” ou trabalho feito.
Tudo isso é significativo de uma das atividades imprescindíveis da atividade humana que é o trabalho.
Sabemos que grandes foram os teoristas sobre o trabalho, especialmente com o advento das revoluções industriais.
A análise de Karl Marx sobre o trabalho prevalece em muitos pontos, na visão crítica, especialmente quando relata que o homem não pode transformar-se totalmente em mercadoria (embora isso não seja original dele), todavia, há pontos também a serem respaldados, quando exagerando na coisificação do trabalho humano, pensa que tudo é um tipo de exploração, e que o lucro ficaria apenas nas mãos do proprietário, o que é tese vencida na lógica, especialmente pelos princípios contábeis.  
A verdade é que esta observação deve ser analisada em partes ou nos seus elementos.
Inicialmente, quando alguém vai trabalhar há um contrato a ser seguido, aquilo que o empregador pode pagar e aquilo que o empregado vai receber. Nestes pontos, começa-se uma atividade laboral. Claro que ganhando pouco o empregado que consegue fazer outras coisas pode procurar outra atividade, mas ganhando também pouco muitas vezes pelo mercado, ele se vê restrito àquele emprego.
Aqui entra uma questão básica do mercado.
Em uma economia desenvolvida, todo empregado tem o direito e consegue trabalhar onde quiser, e onde pode-se lhe pagar mais dentro de sua capacidade. Claro que seria impossível a um indivíduo, com limitações, ganhar muito dinheiro com atividades que são comuns. Há também uma hierarquia de remuneração. Todavia, aquele que tem uma formação, ou sabe fazer muitas coisas, e é um bom funcionário, pode escolher e trabalhar em atividades que lhe couber bem.
Na dinâmica de uma economia isso é possível, porque há plenitude de emprego, e ainda, oferta de trabalho humano.
Em outras economias isso não sucede.
Especialmente aquelas regiões onde há muitas burocracias no trabalho, há menções do governo apenas para se estabelecer o mínimo, e logo se determinar o salário com um custo limitado. Neste locais é difícil ter liberdade ao emprego.
A burocracia da lei muitas vezes prejudica o emprego, e por medo, os empresários reduzem a EMPREGABILIDADE.
Numa comunidade onde o trabalho é dito como direito, mas as horas de trabalho e a submissão a uma autoridade, atividade, compromisso, é concebida como CRIME, a tendência é travar o crescimento dos empregos.
Nestes locais só há direitos e não há obrigações; quando há a obrigação ela é criminalizada. Então os empresários empregam pouco com medo de serem lesados, e assim perderem o negócio que sustenta outras famílias que não utilizam de artifícios para prejudicar o dono.
Abramos uma empresa, para vermos as dificuldades que temos em nosso país para lidar com a empregabilidade, não só para pagar, mas para manter o negócio...
Um tipo de lei, ou de costume, que favorece a preguiça, o engodo, a covardia, ou permite que haja um excesso de direitos sem deveres, e sem contraprestação financeira, é balançar para um lado o instrumento de equilíbrio, apenas prejudicando ao próprio empregado, porque num sistema que o emprego e o trabalho podem ser taxados quase que como crimes, nenhum empreendedor vai empregar muito com medo de ser lesado em seu patrimônio.
A culpa é do sistema capitalista? Não acreditamos que a culpa seja do sistema, mas muitas vezes da própria burocracia. O capitalismo existe nos Estados Unidos, na China, no Japão.  Estes três países, possuem sistemas parecidos no que tange a economia, e não a democracia. Os Estados Unidos é uma democracia liberal, o Japão também mas com tradição ortodoxa, e a China é tipo de sistema político mais fechado, não é uma democracia, embora funcione o capitalismo também. Em todos estes países há capitalismo. Então a culpa não é do sistema em si, mas da forma o qual ele é administrado. Todos estes países possuem as menores taxas de desemprego do mundo.
A verdade é que para que se tenha maior quantidade de ganho, o trabalho tem que ser livre e bem remunerado, para que os preços caiam, ou a renda do trabalho absorva custos altos. É o caso dos Estados Unidos. Uma pessoa pobre lá pode ganhar vinte vezes o que uma pessoa pobre no Brasil ganha. E ainda pode juntar capital e ficar rica. É um sistema mais vantajoso. Possui dinamismo, igualdade, e mais justiça social.
Não há dúvidas que o melhor sistema econômico e político é o da democracia liberal.
Em outros países que possuem capitalismo, mas com Estado inchado (com altos salários, oligarquia, e larga corrupção), com burocracia legal, pouco emprego, mas muita velocidade de riquezas, o salário que se ganha não se compara com o de uma democracia liberal. Os países de regime fechado, de política travada, ou com peso burocrático, não conseguem evolver-se. As sociais-democracias que são um misto de capitalismo privado com capitalismo de Estado também não crescem suficientemente. Muitas vezes crescem estes exemplos pelo tamanho do território, riquezas naturais, e ainda pelo número de pessoas, e não pela qualidade e substância do trabalho e do ganho. Isso é um fato.
Não podemos deixar de comparar por exemplo quase 3 bilhões de pessoas em países fechados, com Estado inchado, larga corrupção, ou com a economia pouco desenvolvida, com quase 300 milhões de um país que tem economia desenvolvida como é o caso dos Estados Unidos.
Se um país com 300 milhões de pessoas tem um sistema econômico, político, e social que funciona melhor que outros sistemas fechados com 3 bilhões de pessoas, porque manter a mesma linha que trava esses países em terem o seu desenvolvimento? É uma análise simples de causa.
Portanto, há uma relação direta entre isso: trabalho humano, e ganho por eficiência; trabalho laboral e menos burocracia, para maior ganho; menos tratamento estatal, e mais emprego; menos intervenção do Estado e mais liberdade de emprego e contratos de trabalho, e assim por diante.
Os teóricos das ciências sociais, da economia, da contabilidade, taxam muito a questão do problema da demanda no capitalismo. Eles dizem que o sistema desemprega por uma relação simples: à medida que tenho mais disponível compro mais meios de produção, assim desempregando mais, todavia, chegando num limite o qual na necessidade que eu tenho de demanda, precisaria de mais gente para comprar, e como há desemprego, o crescimento não acontece da empresa pela ausência de compradores, fazendo com que o empreendimento tenha um limite. Esta análise também foi feita pelo economista Leo Huberman.
É um problema a ser analisado com calma. Sobretudo é uma dedução, que carece também de suplementos. Se fosse realmente um problema geral, o aumento dos meios de produção com o desemprego, não haveria empregos nos países desenvolvidos, e ao mesmo tempo não haveria renda para os mais pobres, no entanto, estes fatos existem. Isso porque o trabalho muda. Ou seja, há uma metamorfose no trabalho humano, de modo que ele adapta para o crescimento, e se altera para que haja evolução, este é um fato axiomático.
Não se pode dizer que o trabalho é estático, ele é dinâmico.
Um trabalhador de cem anos atrás não é igual a um trabalhador atual, em inúmeros pontos e características. Os trabalhadores mudaram, e o trabalho mudou notadamente. Basta fazer uma análise simples para se concluir isto. 
Entendemos então que num país que há muita tecnologia como nos Estados Unidos e Japão, crescerá o número de engenheiros, e trabalhadores daquele ramo, aumentando o emprego também.
Mas e se a escala não consegue se adequar ao sistema? Ou o sistema a abrange com trabalho específico, ou o Estado a banca com volumes suficientes para a sua dignidade.
É uma questão de análise e complementação do sistema. A culpa não é da riqueza e nem do capitalismo. Mas a forma que ele é utilizado em todos os cantos, NUM DETERMINADO SISTEMA POLÍTICO E ADMINISTRATIVO. Abrangendo as pessoas, e avançando na empregabilidade, para que possa incluir a todos.
Para deixar os pobres bem, e mais ricos, é fundamental a riqueza, e não a destruição da riqueza.
Trocar causa e efeito é um tipo de inversão danosa para os que cometem. Jogar a culpa num objeto inanimado seria o mesmo que crer na magia, e na ficção. Os problemas sociais exigem análises sérias, e não relatos de criança.
O sistema social pode abranger a todos, basta ser muito bem administrado para que o trabalho possa crescer, ser aproveitado, e aqueles que realmente não conseguem o emprego, possam ser mantidos até de adequarem, ou serem financiados com uma renda mínima que lhes dê dignidade.
Seria mister também uma educação volvida para o empreendedorismo, pois, nesta linha se conseguiria manter graus adequados de trabalho próprio, mesmo quando não há empregos específicos. Todos poderiam por conta própria crescer num sistema destes, fazendo atividades remunerativas em casa, ou na internet.
O empreendedorismo se caracteriza então como fundamental. Uma política de educação para a poupança, para controlar os gastos e manter bem as finanças do próprio patrimônio. Não uma educação consumista e gastadora. Mas uma educação economista e economizadora.
O trabalho não pode ser destruído, ele que é a base para o crescimento humano, a evolução da dignidade, a movimentação dos empreendimentos, sobretudo, a manutenção e satisfação das nossas necessidades.
Hoje neste dia do grande trabalhador que foi São José, se homenageia todos os trabalhadores. É verdade que o trabalho de São José era o melhor dos ofícios. Pegava com paciência uma madeira, trabalhava nela até sair um produto bonito e bem feito. Havia farpas, machucados, suor. Mas o produto que saia era especial. A madeira do carpinteiro é igual a nossa vida, aos poucos vamos moldando-a para a perfeição cristã, num trabalho constante, e na busca da beatitude espiritual. Ele é o grande modelo dos trabalhadores. Serviu abençoando todos os ofícios, especialmente o seu.
É O TRABALHO QUE CRIA A RIQUEZA ESPIRITUAL E MATERIAL.
VIVA O TRABALHO e VIVA AOS TRABALHADORES! Um feliz dia do trabalho a todos nós! Um abençoado dia de São José Operário!

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